PRIMEIRO CAPÍTULO - Parte 2

By Paixão

O pavor que a visão daquele mapa trouxe para Daniel parecia ter sido algo completamente inesperado. Nem mesmo quando estava vasculhando os papéis dos casos anteriores do pai ele tinha sentido tanta apreensão. Contudo, não conseguia racionalizar o motivo desse sentimento. Afinal, ele já tinha visto o mapa antes, conhecia as linhas que o atravessavam, assim como a imagem, não tão nítida, mas visível, de uma pirâmide no seu centro. Mas mesmo sabendo disso tudo, o terror o invadia cada vez mais, principalmente agora que lembrava como o amigo deve ter tido acesso ao mapa.

Apesar disso, tentou se controlar, afinal, Flora nada tinha haver com aquele assunto.

A mesma, por sua vez, apesar da surpresa inicial que a informação dele criou, já parecia mais calma. Agora ela demonstrava, inclusive, uma expressão de curiosidade. Contudo, mantinha-se calada - talvez por sentir que o amigo não tinha muitas condições de responder às perguntas que cresciam dentro dela conforme os fatos que cercavam o desaparecimento do irmão iam se desenrolando.

Por fim, ao perceber que Daniel nada ia falar, resolveu ela mesma tomar a iniciativa. Com isso, dobrou o mapa, fechou o livro e guardou os mesmos dentro da bolsa.

“Talvez seja melhor a gente continuar essa conversa lá em casa.”

By Barbosa

Os dois entraram no apartamento quase vazio de Flora depois de uma caminhada em silêncio. Daniel guardara toda a sua energia para tentar solucionar o que quer que ligava o desaparecimento de Lucas à morte de seu pai. Como aquele mapa foi parar dentro de um livro nas mãos de Flora? Ele lembrava muito bem do dia em que ele e a mãe guardaram todas as coisas do pai. O mapa não chamara muito a sua atenção, já que o que mais o pai tinha eram mapas e objetos estranhos. Mas um mapa esquisito, por mais ordinário que fosse à sua rotina com os pais, ainda era algo a ser reconhecido quando estava fora do seu ambiente habitual.

“Não entendo...” Ele sussurrou para si mesmo. Flora olhou-o de esguelha, mas nada comentou. Ela também não entendia. “Não entendo como pode um objeto guardado dentro de uma caixa, fechado em um armário...” continuou Daniel.

“Você quer um café?” Flora perguntou.

“Algo mais forte, por favor!”

Flora sorriu, mas a única coisa que ela tinha para beber em casa era o pó de café e uma garrafa de água. Enquanto preparava o café – bem forte, para suprir as necessidades do amigo e dela mesma – Daniel observava o livro, procurando qualquer outro espaço para se esconder alguma coisa.

“Esse livro é exatamente o que eu esperaria de um livro que guardasse segredos... Parece um livro comum, mas na realidade, não é.”

Flora observou também. Era apenas uma cópia antiga de uma história comum de mistério.

“O que você quer dizer com isso?” Ela perguntou.

“Flora, eu cresci vendo meu pai estudando ocultismo, magia negra, sociedades secretas...” Ele deu uma pausa quando ela lhe entregou a xícara fumegante. “Um simples livro sobre fantasmas é a desculpa perfeita para esconder códigos secretos.”

By Baeta

"E se não for só isso?" Perguntou Flora.

Daniel lentamente levantou os olhos do livro que folheava e os levou até os olhos da amiga.

Flora continuou.

"Tudo o que você sabe é que seu pai tinha um mapa igual quando tentava resolver seu último caso. Tudo o que eu sei é que Daniel deixou apenas esse livro para trás e que o mapa estava escondido nele. O mapa é apenas o desenho. Ele não tem nenhuma referência, indicações de latitude e longitude ou mesmo de escala. É impossível de ler sozinho! Seu pai trabalhava com diversos livros junto ao mapa dele, provavelmente tentando encontrar o material complementar para ler o mapa... Será que a escolha de escondê-lo neste livro foi simplesmente por ele ser um bom disfarce? E se for o extremo oposto?!"

Flora deu uma pausa que poderia ser chamada de dramática, embora não fosse proposital. Por dois segundos ficou em silêncio enquanto seus olhos passeavam pelo livro nas mãos bem cuidadas de Daniel. Até um insight pode precisar de uma pausa para tomar fôlego quando se trata de um assunto tão emocional.

Daniel inclinou o corpo para a ponta de sua cadeira e girou o pulso algumas vezes como quem diz para desenrolar o raciocínio. Flora continuou.

"E se ele estava escondido neste livro justamente para sinalizar sua localização a quem quer que saiba para onde ele leva? Talvez o livro não seja um disfarce, mas a indicação do local do mapa para os olhos certos."

Daniel ficou interessado na perspectiva da amiga e com o coração palpitando rápido. Como não estar emocionado? Depois de tanto tempo poderia estar chegando à uma pista para a razão da morte do pai, e de uma forma tão inesperada. A excitação foi tanta que até fez algo que julgava conflitante com o seu charme: pensar em voz alta.

"Partindo da sua linha de raciocínio, se o livro indica o local do mapa... isso quer dizer que a história que eu julguei como irrelevante poderia ser a explicação para o mapa e para o desaparecimento dos dois?!"

"Elementar, meu caro Watson!" Brincou Flora.

Após receber um sorrisinho de canto do amigo, ela continuou.

"E quem conhece melhor do que eu essa história que passou de irrelevante para preciosa? Quem leu mais vezes do que eu esse livro? Você pode ler depois, mas vou te adiantar a história completa agora. Talvez algo nela te lembre os livros do seu pai."

Continua